quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O nome e seus determinantes

Sintagma:

 Definições:

 “Conjunto binário em que um dos elementos subordina o outro” (Aquino)
 “(...) combinação (binária) de formas em que um elemento determinante cria um elo de subordinação com outro elemento, que é o determinado” (Ribeiro)
 “(...) grupo de elementos linguísticos que formam uma unidade numa organização hierarquizada” (Dubois et al)

 Conjunto de elementos em relação de subordinação


 Sintagma = determinante + determinado

 Tipos (Aquino):

 Lexical (a)
 Locucional (b)
 Oracional e suboracional (c e c`)
 Superoracional (d)

 Exs.

(a) Aluna - alun- + -a
dto. dte.
(b) Meu amigo - meu + aluno
dte. dto.
(c) João adora chocolate - João + adora chocolate
dto. dte.
(c`) adora chocolate - adora + chocolate
dto. dte.
(d) Eu quero que você venha - Eu quero + que você venha
dto. dte.

Nome:

 “Em gramática, qualquer palavra que se opõe ao verbo e que admite a flexão de gênero e número. Por isso se diz nome substantivo e nome adjetivo.” (Aquino)

 (Bechara, Dubois, Perini e Ribeiro não apresentam definição)

 Nome - termo que corresponde às palavras que são ou podem funcionar como substantivo.

Determinante:
 “(...) termo acessório, menos importante, subordinado ao outro” (Aquino)

 Bechara não define determinante mas numa nota de rodapé o entende como elemento que compreende as noções de adjunto e complemento.

 Determinante à termo simples, locucional ou oracional que se articula com o nome modificando-o semântica1 e sintaticamente2.

1. Modifica o sentido;
2. Modifica sua função (passa a determinado)


Das classes envolvidas:

 1. Substantivo – denominativo

 Flexiona em gênero e número
 Varia em grau
 Funciona como núcleo do sintagma nominal

 Pronome substantivo
 Numeral substantivo
 Adjetivo substantivado
 Advérbio substantivado

 2. Artigo – indicador de gênero e número

 Flexiona em gênero e número
 Funciona como adjunto adnominal
 Pode se fundir com preposições

 Ex. O artigo indica o gênero e o número dos seus determinados.
 A classe dos artigos indica as noções de gênero e número das palavras determinadas.

 3. Adjetivo – qualificador (compreende as locuções adjetivas)*

 Flexiona em gênero e número
 Varia em grau
 Funciona como adjunto adnominal e predicativo

 Ex. O artigo indica o gênero e o número dos seus determinados.
A classe dos artigos indica as noções de gênero e número das palavras.

* As orações adjetivas também integram este grupo (determinante oracional)

 4. Pronome – substitui (pronome substantivo) ou acompanha (pronome adjetivo) o nome

 Flexiona em gênero e número
 Indica a pessoa do discurso
 Dividem-se em: pessoal; interrogativo; relativo; possessivo; demonstrativo; indefinido
 Funciona (quando na função de adjetivo) como adjunto adnominal ou predicativo

 Ex.
 O artigo indica o gênero e o número dos seus determinados.
 Aquele artigo indica o gênero e o número dos seus determinados.
 Todo artigo indica o gênero e o número dos seus determinados.

 5. Numeral – refere-se a números

 Flexiona em gênero e número
 Divisão: cardinal; ordinal; multiplicativo; fracionário
 Funciona como adjunto adnominal e predicativo

 OBS. Os determinantes podem se colocar tanto antes quanto depois dos termos determinados; apenas o artigo, a locução adjetiva, os demonstrativos e orações adjetivas possuem lugar fixo (artigo, antes; locução, depois; orações, depois ou intercalada)

 Há casos de ordem inversa da língua em que as locuções aparecem antes, no entanto são raros

 “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas” = As margens plácidas do Ipiranga ouviram

 Há casos em que a inversão provoca alterações de sentido:

 Amigo velho Vs Velho amigo
 Algum problema Vs Problema algum

 Há casos em que a mudança do artigo provoca alterações de sentido:

 A capital Vs O capital
 O moral Vs A moral
 O bem Vs Os bens
 A féria Vs As férias

Das funções sintática dos determinantes:

 I – Adjunto adnominal – termo que determina o núcleo de um SN

 Artigo
 Adjetivo
 Locução adjetiva
 Numeral adjetivo
 Pronome adjetivo
 Oração subordinada adjetiva

 Exs:
 O pássaro
 Bela menina
 Casa de pedra
 Tenho duas irmãs.
 Minha camisa
 É uma pessoa que se cuida.

 II – Complemento Nominal – Termo que se liga a substantivo abstrato, adjetivo ou advérbio

 Locução

 Exs.

 Tenho certeza do seu sucesso.
 Estava pronto para tudo.
 Estava longe da mesa.

 III – Predicativo – termo que se liga ao sujeito ou ao objeto para modificar-lhes o sentido. Apenas o predicativo do objeto é considerado um determinante.

 Estruturas:

 P.S. à S + VL + P O aluno anda cansado.
 P.O. à S + VT + O + P Deixem o corredor limpo.

 IV – Aposto – termo especificativo que se liga a um nome.

 Ex.

 Márcio, o assassino da barra de ferro, foi finalmente capturado.

Casos de difícil distinção:

 Adjunto e complemento

 Quando ligados a um substantivo, podem se confundir facilmente; critério da atividade/passividade

 A partida de futebol Vs A partida dos jogadores
 A pesquisa da vacina Vs A pesquisa dos cientistas
 A descoberta da cura Vs A descoberta dos doutores

 Adjunto e aposto (especificativo ou especificador)

 Será aposto se houver uma relação de contigüidade (proximidade/correspondência) entre determinado e determinante

 O rio Iguaçu secou.
 O professor Fábio morreu.
 O mês de julho voou.
 A cidade de Paracambi é pacata.

 Adjunto e predicativo (do objeto)

 Para distinguir, substitui-se o complemento por pronome; se o modificador permanecer, predicativo, caso contrário, adjunto. Veja:

 O promotor considerou as questões nulas.
 O Promotor considerou-as nulas.
 Logo, Predicativo

 O promotor proferiu decisões nulas.
 O promotor proferiu-as.
 Logo, adjunto

Bibliografia:

 AQUINO, Renato. Dicionário de Gramática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
 BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.
 DUBOIS, Jean (org). Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 1998.
 PERINI, Mário A. Gramática Descritiva do Português. São Paulo: Ática, 2001.
 RIBEIRO, Manuel P. Nova Gramática Aplicada da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Metáfora, 2002.

Complementos verbais

Objeto direto, indireto, direto preposicionado, indireto não preposicionado, direto e indireto pleonástico

Fatores:

* Verbos nocionais Vs Verbos relacionais

Verbos nocionais constituem os predicados verbais ou os verbo-nominais; já os relacionais são característicos dos nominais

* Nocionais – transitivo (direto, indireto ou direto e indireto)

* Transitividade e semântica
O sentido do verbo pode determinar a sua transitividade

Assistir – visar – atender – chamar – aspirar – assistir.

Exemplos:

 Assisti os necessitados.
 O inspetor visou todos os diplomas.
 Este trabalho visa ao aprendizado.
 Não o atendi com prazer.
 Assisti a uma de suas aulas.
 Não atendi ao seu apelo.
 Eu chamei minha irmã o nais alto que pude.
 Chamavam-lhe de maluco.
 Aspira o pó.
 Aspirei ao cargo de coordenador.

1. Objeto direto preposicionado:

 Verbos de sentimento
 Para evitar ambiguidades
 Enfatiza o complemento
 Realçar ideia de porção

Ele só ama a você, Ana.
A Abel matou Caim.
Cumpri com o prometido.
Tomava do vinho com prazer.

2. Objeto indireto sem preposição:

Ocorre nos casos em que o pronomes oblíquos são complementos

Emprestei-lhe minhas revistas.

Ele nos enviou umas revistas russas.

3. Objeto direto e indireto pleonásticos

Três fatores:

Do papel do anacoluto
Da topicalização
Do pleonasmo sintático

Estas meninas, já as vi em algum lugar.

Às minhas poesias, não lhes dava nenhuma atenção.

4. Objeto direto interno

Também um caso de pleonasmo, consiste em objeto que reforça a ideia já contida no verbo:

Morreu morte infame.

“E rir meu riso e derramar meu pranto.”

Nós cantamos um canto glorioso.

Dormir um sono bom

Breves comentários sobre os contos do Mia Couto selecionados para leitura

As três irmãs

O conto trata da submissão feminina e de vidas sem maiores emoções. As três irmãs se definem por um afazer tipicamente feminino: a poesia, a culinária e o bordado. O conto é extremamente poético e prenhe de passagens bastante líricas. Do ponto de vista lingüístico, convém destacar o uso pronominal proclítico e o belo neologismo (cristalinda). O jogo de metonímias da última parte também merece destaque. O desfecho do conto põe em cena o inusitado como manutenção do equilíbrio (homens se beijam).

O homem cadente

O conto discute os limites entre o real e o fantástico. O elemento onírico delineia o fantástico na medida em que o personagem-narrador faz da realidade o sonho. Há ainda uma discussão acerca da histeria coletiva. Mais uma vez o uso pronominal chama atenção. É a moça o elo entre o fantástico e o real, já que ela habita dois mundos.

O cesto

Texto estruturalmente simples, mas de uma força extraordinária, traz uma mulher no papel de protagonista cujo marido se encontra em leito de morte. A figura feminina se mostra (como no 1º conto) em estado de submissão mesmo diante do desvanecimento do marido. O duelo aqui é mais uma vez travado pela vida e pela morte: a luz de um só brilha quando a do outro se apaga (“A sua vida me apagou. A sua morte me fará nascer”). Antes tal constatação, a mulher passa a desejar a morte do marido, sinônimo de sua liberdade. A morte chega para o homem, no entanto, a vida que, esperava-se, jorraria dos poros da mulher, permanece acanhada. O conto não traz inovações de estilo.

Inundação

O conto aborda o tema da ausência e das consequências que daí resultam. Embora o narrador seja um menino, mais uma vez a figura feminina ocupa o centro da narrativa. O texto fala assim da lembrança e de seu poder de dar corpo ao que está ausente. A ausência, nesse sentido, não é um vazio total, mas um espaço em branco cujos contornos são delineados pelos traços da lembrança, inundação seja de rios ou céus.

Saia almarrotada

Nesse conto a personagem é uma mulher (a única) numa família de outros tantos homens. Além de mulher, é a caçula, o que simboliza ainda mais a sua fragilidade. A mãe falece durante o seu parto: “Minha mãe nunca soletrou meu nome. Ela se calou no primeiro choro, tragada pelo silencia”. A personagem parece se sentir deslocada da família e da sociedade em si. Há um tom de impessoalidade ou despersonalização já que, com exceção de um tio (Jonjão), os pares da personagem não são dados a conhecer pelo leitor senão por termos genéricos: filharada, outras moças, mulheres etc. Portanto, é mais uma vez a mulher destituída de sua feminilidade que ocupa o centro da narrativa. O título sintetiza essa perda da feminilidade ou a sua descaracterização: o NBeologismo garante a simbiose do objeto (saia) com a figura (almarrotada) feminina.

O adiado avô

Apesar do deslocamento gerado no que diz respeito ao protagonismo (nesse conto é um homem), ainda é da condição de sofrimento da mulher que o texto trata também. Todos os personagens nomeados assim o são por neologismo, dois morfológicos (Zedmundo e Amadalena) e um semântico (Glória). É interessante notar como estes neologismos falam muito da personalidade dos personagens que nomeiam; há uma sintonia no que tange os nomes e o desenrolar da narrativa: “O velho Zedmundo nunca tivera nem rumo certo nem destino duradouro”; “(...) vendo-o assim, babado, e minguado, minha mãe entendia que o velho, seu velho homem, queria, afinal, ser sua única atenção”. O desfecho do conto, ao contrário dos anteriores, traz o clássico final feliz.

Na tal noite

O texto traz à baila a história de uma segunda mulher que só vê o pai dos seus filhos uma vez ao ano: na tal noite / a noite de natal. Há um jogo entre o título e a situação que encerra: é em noite de natal que o pai natal aparece; note-se que pai natal se opõe a pai Noel, embora haja semelhanças entre eles, nas atitudes (chega de carro a dar presentes) e no aspecto físico (são ambos corpulentos). O traço peculiar da personagem feminina está na sua aceitação – um tanto frustrada – da condição de segunda mulher. Ela louva o seu marido, Sidónio, pelo cumprimento mínimo do papel de pai, mas o papel de homem quem faz é o vizinho. Sendo assim, a personagem feminina difere das outras em termos de absoluta submissão.