sexta-feira, 13 de maio de 2011

Quinhentismo em resumo e fragmentos de textos representativos

QUINHENTISMO BRASILEIRO - Denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI.

Momento histórico

Europa


 Auge do Renascimento
 Reforma protestante
 Contra-Reforma


O homem europeu entre duas conquistas: material e espiritual.

A LITERATURA INFORMATIVA

O Quinhentismo no Brasil não apresenta preocupação artística,uma vez que, após o descobrimento, a colonização foi exploratória. O principal objetivo dos textos produzidos nesse período liga-se às crônicas de viagem, textos comuns aos movimentos das grandes navegações e ao Mercantilismo, preocupados apenas com a passagem de informações.
Literatura descritiva, de pouco valor literário; conhecida também como literatura dos viajantes ou dos cronistas.

Principal característica: exaltação da terra; apresentando também: linguagem culta, descritivismo, informação, de caráter documental, histórica.

Principais destaques: Pero Vaz de Caminha; Pero Gândavo.

A LITERATURA DOS JESUÍTAS

Literatura de cunho pedagógico, voltada ao trabalho de catequese.

Principal destaque: José de Anchieta – jesuíta de maior destaque.
Manuel da Nóbrega

Indicação bibliográfica - CRONISTAS DO DESCOBRIMENTO – a obra

A obra apresenta treze textos do período quinhentista brasileiro, entre crônicas de viagem, cartas e poemas, antecedidos por comentários dos organizadores sobre o autor de cada texto.

Carta do achamento do Brasil: Pero Vaz de Caminha

A primeira publicação da Carta em livro é de 1817, feita pelo padre Manuel Aires do Casal, que encontrou uma cópia no Arquivo da Marinha Real do Rio de Janeiro. A obra em estudo apresenta quatro partes da carta, a saber:

Na primeira parte, tem-se o começo da viagem e a chegada ao Brasil:

“Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei também de dar conta disso a Vossa Alteza, o melhor que eu puder, ainda que, para o bem contar e falar-, a saiba fazer pior que todos.”(p.19)
(....)
A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi, segunda-feira, 9 de março. Sábado, 14 do dito mês, entre as oito e as nove horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grâ Canária, onde andamos todo aquele dia em calma, à vista delas , obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, ou melhor, da ilha de S. Nicolau, segundo o dito de Pero Escobar, piloto.
Na noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau, sem haver tempo forte nem contrário para que tal acontecesse. Fez o Capitão suas diligências para o achar, a uma e outro parte, mas não apareceu mais.
E assim seguimos nosso caminho , por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de abril, estando da dita ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamem botelho, assim como outras a que dão nome de rabo-de-asno. E, quarta-feira seguinte, pela manhã topamos aves a que chamam furabuchos.
Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à terra – a Terra de Vera Cruz.
(...) Ali permanecemos toda aquela noite. E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à terra, indo os navios pequenos diante (...) onde todos lançamos âncoras em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais ou menos.
(...)
Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta do capitão-mor, onde falaram entre si. E o capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.

A segunda parte apresenta um momento de confraternização entre índios e portugueses; vendo os índios dançarem, Diogo Dias e um gaiterio dançam e riem com eles.

A terceira parte mostra a troca de presentes e os hábitos indígenas. O contato mais de perto com o gentio permite observar melhor suas características.

“Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Deu-lhes somente um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas com uma copazinha pequena de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o capitão manda a Vossa Alteza.”
“Além do rio, andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante dos outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então além do rio Diogo Dias, almoxarife que foi de Sacavém, que é homem gracioso e de prazer; e levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se com eles a dançar, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam, e andavam com ele muito bem ao som da gaita.(...)”


A quarta parte refere-se à intenção de cristianização dos nativos. A observação de Caminha à reação positiva dos indígenas, na celebração da segunda missa, mostra a satisfação com a expansão da fé, o que faz com que ele interprete como um entendimento do Cristianismo.

“E quando veio o Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim, até ser acabado; e então tornaram-se a assentar como nós. E quanto levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim todos, como nós estávamos com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção.”


ALERTAR PARA :

 Vocabulário: singraduras, chã, batéis, esquife, alimárias, grumetes etc.
 As atitudes de imitação
 O registro do impacto da nova terra sobre o europeu
 O choque cultural frente à nudez
 A valorização do índio
 A narração em 1ª pessoa, num registro em que salienta humildade e obrigação de dar conta ao Rei. Depois passa a narrar no plural ( avistamos, fizemos, passarmos) como testemunha ocular da História.

Sucedem, então, 10 cronistas à Carta de Caminha, cada um a seu modo relatando sobre a nova terra, a saber:

1. Piloto Anônimo – RELATO usando precisão de termos náuticos específicos.
2. Pero Lopes de Sousa – DIÁRIO sóbrio e direto sobre a expedição de Martim;
3. Manuel da Nóbrega – CARTA solicitando ajuda para missão moral;
4. André Thevet – RELATO com simplicidade e alguns erros.
5. Jean de Léry – RELATO simpático e elogioso;
6. Hans Staden – RELATO cheio de peripécias por ser prisioneiro;
7. José de Anchieta – POEMA
8. Pero M. Gândavo – TRATADO feito por um historiador;
9. Fernão Cardim – VERBETES;
10. Gabriel S. Sousa – TRATADO com aspectos geográficos/históricos.

RELAÇÃO DA VIAGEM DE PEDRO ÁLVARES CABRAL: uma outra versão da história

O texto apresenta o relato de um piloto anônimo, havendo até hoje divergências sobre sua autoria. O interesse reside no fato de que há nesse texto informações importantes, como, por exemplo, mostrar o encontro com a expedição de Américo Vespúcio, que também se dirigia ao Brasil, mostrando que Portugal tinha interesse na nova terra, após o recebimento da carta de Caminha. Um outro dado, divergente, está ligado ao descobrimento, cuja data é 25 de abril e não 22, conforme Pero Vaz.
“No ano de 1500 mandou o Sereníssimo Rei de Portugal D. Manuel uma armada de doze naus e navios para as partes da Índia, e por seu capitão-mor Pedro Álvares Cabral, fidalgo de sua casa, as quais partiram bem aparelhadas e providas do necessário para ano e meio de viagem. Dez destas naus levavam regimento de ir a Calecute, e as duas restantes a um lugar chamado Sofala para contratar em mercadorias, ficando este porto na mesma derrota de Calecute, para onde as outras dez iam carregadas. Em um domingo, 8 de março daquele ano, estando tudo prestes, saímos a duas milhas de distância de Lisboa, a um lugar chamado Restelo, onde está o Convento de Belém, e aí foi el-rei entregar pessoalmente ao capitão-mor o estandarte real para a dita armada. No dia seguinte levantamos âncoras com vento próspero, e aos 14 do mesmo mês chegamos às Canárias; aos 22 passamos Cabo Verde, e no dia seguinte esgarrou-se uma nau da armada, por forma tal que não se soube mais dela. As 24 de abril, que era uma quarta-feira do oitavário da Páscoa, houvemos vista de terra, com o que, tendo todos grandíssimo prazer, nos chegamos a ela para a reconhecer, e achando-a muito povoada de árvores, e de gente que andava na praia, lançamos âncora na embocadura de um pequeno rio.”


DIÁRIO DA NAVEGAÇÃO: Pero Lopes de Sousa

“Verdadeira crônica dos primeiros fatos da História do Brasil, escrita no calor da hora, este texto documenta o dia-a-dia da expedição comandada por Martim Afonso de Sousa, de quem o autor era irmão.”
O autor acompanhou o irmão, em 1530, em uma expedição encarregada de proteger a costa, além de fixar os limites das terras de Portugal. Essa expedição também ficou encarregada de fundar os primeiros núcleos de colonização.
O texto apresenta um registro cronológico dos acontecimentos que envolvem a expedição, relatando os acontecimentos durante a viagem de travessia do Oceano, a exploração da terra e a luta contra os franceses. O trecho apresentado incia a 12 de março de 1532 e vai até 28 de setembro descrevendo a rotina no mar, com referências náuticas e geográficas freqüentes, o desembarque em pontos marcados no país, além do contato com os portugueses que já eram estabelecidos no Brasil.
“Domingo 13 dias (do mês) de março pela manhã éramos de terra quatro léguas (...) na entrada tem sete, oito braças de fundo, a lugares pedra, a lugares areia; e assim tem o mesmo fundo dentro da baía, onde as naus surgem. Em terra, na ponta do padrão se faz uma restinga de areia, e a lugares pedra: entre ela e a ponta podem entrar naus; no mais baixo da dita restinga há braça e meia. Aqui estivemos tomando água e lenha, e corrigindo as naus, que dos temporais que nos dias passados nos deram, vinhem desaparelhadas. Nesta baía achamos um homem português, que havia vinte e dois anos que estava nesta terra; e deu razão larga do que nela havia. (...) A gente desta terra é toda alva; os homens mui bem dispostos, e as mulheres mui formosas, que não hão nenhuma inveja às da Rua Nova de Lisboa. Não têm os homens outras armas semão arcos e flechas; a cada duas léguas têm guerra uns coms os outros. (...) as cinquenta almadias, da banda de que estávamos surtos foram vencedores; e trouxeram muitos dos outros cativos, e os matavam com grandes cerimônias, presos por cordas, e depois de mortos os assavam e comiam, não têm nenhum ,modo de física: como se acham mal não comem, e põem-se ao fumo; e assim por conseguinte os que são feridos.”


CARTA AO PADRE MESTRE SIMÃO RODRIGUES DE AZEVEDO: Manuel da Nóbrega

“Na primeira carta que escreve do Brasil.,o jesuíta relata o trabalho dos padres da Companhia, dando assistência religiosa e buscando catequizar os índios.”

“(...)Eu prego ao governador e à sua gente na nova cidade que se começa, e o padre Navarro à gente da terra. Espero em Nosso Senhor fazer-se fruto posto que a gente da terra vive em pecado mortal, e não há nenhum que deixe de ter muitas negras das quais estão cheios de filhos e é grande mal. (...) O Irmão Vicente Rijo ensina a doutrina aos meninos cada dia e também tem escola de ler e escrever...”
“(....) O padre Leonardo Nunes mando aos Ilhéus e Porto Seguro, a confessar aquela gente que tem nome de cristãos, porque me disseram de lá muitas misérias...”

DIÁLOGO SOBRE A CONVERSÃO DO GENTIO: Manuel da Nóbrega

“Em forma de diálogo, Nóbrega discute aspectos práticos, morais e religiosos da relação entre os colonizadores e os índios, defendendo a tese de que estes não devem ser escravizados, pois têm alma como os cristãos.” Nóbrega discute com Gonçalo Alves defendendo a tese de que todos são iguais, daí tanto brancos, quanto índios e negros teram direito à evangelização.

[...]
Nogueira: Já que tanto apertais comigo, e me pareceis desejoso de saber a verdade deste negócio, creio que vos tenho esgotado, dir-vos-ei o que muitas vezes, martelando aquele ferro duro, estou cuidando, e o que ouvi a meus padres, por muitas vezes, parece, que nos podia Cristo, que nos está ouvindo dizer: ó estultos e tardios de coração para crer, estou eu imaginando todas as almas dos homens uma, nos serem umas e todas de um metal feitas à imagem e semelhança de Deus, e todas capazes de glória e criadas para ela, e tanto vale diante de Deus por natureza a alma do Papa, como a alma do vosso escravo Papana
Gonçalo Alves: Estes têm alma como nós.
Nogueira: Isso está claro, pois a alma tem três potências, entendimento, memória e vontade, que todos têm; eu cuidei que vós éreis mestre, já em Israel, e vós não sabeis isso; bem parece, que as teologias, que me dizeis arriba era, e eram postiças do padre Braz Lourenço, e não vossas; quero-vos dar um desengano, meu irmão: que tão ruim entendimento tendes vós para entender o que vos queira dizer, como este gentio, para entender as cousas de nossa fé.
Gonçalo Alves: Tendes muita razão, e não é muito, porque ando na água aos peixes bois, e trato no mato com brasil, e não é muito ser frio, e vós andais sempre no fogo, razão é que vos aquenteis, mas não deixeis de prosseguir adiante, pois uma das obras da misericórdia é ensinar os ignorantes.
[...]


AS SINGULARIDADES DA FRANÇA ANTÁRTICA: André Thevet

O texto relata a aventura do frade franciscano e francês, bem como descreve a terra que conheceu. Além das informações sobre a terra, o autor também levou para a França o tabaco, sendo considerado o introdutor desta planta em seu país.

(...)Cumpre falar da parte que mais conhecemos e freqüentamos, situada perto do trópico brumal e ainda além. Além dos critãos, que depois de Américo Vespúcio a habitam, esta terra foi e é ainda hoje habitada por gente prodigiosamente estranha e selvagem, sem fé, sem lei, sem religião, sem civilidade nenhuma, que vive como os animais irracionais, do modo como a natureza a fez, comendo raízes, andando sempre nua (tanto homens quanto mulheres), e isso tavez até que, convivendo com os cristãos, aos poucos se despoje dessa brutalidade,passando a vestir-se de modo mais civilizado e humano.
Dissemos que essa pobre gente vive sem religião e sem lei, o que é verdadeiro. Na realidade, não há criatura dotada de razão que seja tão cega a ponto de, olhando para a ordem do céu, da terra, do sol e da lua, ou para o mar e as coisas que se criam todos os dias, deixar de considerar que tudo isso foi feito pela mão de algum grande artífice que não o homem. Por isso não há nação tão bárbara que, por instinto natural, não tenha alguma religião ou cogitação de algum deus.(...) Voltando ao assunto, os nossos selvagens fazem menção a um grande Senhor, que na língua deles se chama Tupã e que, morando no céu, faz chover e trovejar. Mas não têm eles maneira nem hora de orar a esse deus ou de cultuá-lo,assim como tampouxo há lugar próprio para isso.

Nesse trecho o texto relata ainda como lhes apareceu um caraíba (profeta) e lhes ensinou a plantar e cultuar a jetica (batara doce). Descreve ainda a árvore da pacoveira (banana), o ariri (abacaxi), a presença de crocodilos nos rios, bem como o tamanho daqueles e de como os índios deles de alimentam. Ainda registra como os índios fazem incisões pelo corpo, ora pintando-os, ora furando os lábios com conchas para ornamentar o corpo, ora furando as orelhas com diversos materiais.

VIAGEM À TERRA DO BRASIL: Jean de Léry

A narrativa nos apresenta os momentos inciais da França Antártica, detendo-se em seguida nas descrições da terra e do modo de vida dos seus nativos. É justamente a parte relativa aos indígenas que destaca o texto do autor, transformando-o num referencial dos estudos antropológicos brasileiros. Trata de como os índios (tupinambás) tratam e recebem humanamente os amigos que os visitam, do choro das mulheres e das palavras festivas que estas lhes dirigem como boas-vindas. “(...) direi que o viajante, assim que chegue a casa do muçacá (amigo) – ou seja, o pai de família que dá de comer a quem por lá passa – por ele escolhido como hospedeiro, deve sentar-se numa rede e alis ficar um pouco de tempo sem nada dizer. Depois disso, as mulheres aproximam-se, põem-se ao redor da rede e, acocoradas com as nádegas no chão, cobrem os olhos com as duas mãos e choram dando boas-vindas à pessoa em questão, dizendo mil coisas em seu louvor. Como por exemplo: “Você teve tanto trabalho para vir até aqui; você é bom, é valente”. E se for um francês ou outro estrangeiro daqui, acrescentarão: “Você trouxe tantas coisas bonitas que ainda não tínhamos nesta terra.[...]
Se o recém-chegado,sentado na rede, quiser agradá-las e fazer bonito mas não quiser chorar ( como vi alguns dos nossos que, ouvindo as demonstrações das mulheres quase choraram como bezerros desmamados), pelo menos precisam fingir que choram e reponder-lhes soltando alguns suspiros.
Terminada essa primeira saudação feita em sinal de amizade pelas mulheres americanas, o muçacá, ou seja, o dono da casa, que, por sua vez, terá ficado absorto a fazer alguma flecha ou outra coisa e passado bem quinze minutos sem dar demonstração de enxergar o visitante (acolhida bem diferente dos nossos abraços, efusões, beijos e apertos de mmão quando recebemos amigos ), aproximando-se, dirá primeiramente as seguintes palaveas: “Eré-iubê?, ou seja, “você veio?”; depois: “como vai”, “o que deseja?” etc. A isso é preciso responder conforme se mostrará depois, num colóquio transcrito na língua deles.”


VIAGEM AO BRASIL: Hans Staden

O autor era alemão e veio ao Brasil duas vezes. Na segunda viagem, incorporado a uma nau espanhola, naufragou no litoral paulista, onde se agregou aos portugueses. Esteve prisioneiro dos tupinambás, sendo ameaçado de morte e de ser devorado em ritual antropofágico. Foi resgatado por uma nau francesa e levado para a Alemanha.
Na primeira, das quatro partes apresentadas, tem-se um relato aventuresco de como o trataram de dia, quando o levaram às suas casas como prisioneiro. Na segunda parte descreve quantas mulheres cada índio tem e como vive com elas ( inclusive de que quando um índio se vê aborrecido com a mulher faz-lhe presente para outro índio); na terceira parte considera como os índios contratam os casamentos e na última parte com que cerimônias matam e comem seus inimigos; como os matam e como os tratam.

[...] Ao chegarmos perto de suas moradas, ivmos que era uma aldeia com sete casas e se chamava Ubatuba. Entramos numa praia que vai beirando o mar e ali perto estavam as mulheres numa plantação de raízes, a que chamam mandioca. Na mesma plantação havia muitas mulheres,que arrancavam destas raízes, e fui obrigado então a gritar-lhes na sua língua: “Ayu ichebe enê remiurama”, isto é: “Eu, vossa comida, cheguei”.
Uma vez em terra, correram todos das casas ( que estavam situadas num morro), moços e velhos, para me verem. Os homens iam com flechas e arcos para as suas casas e me recomendavam às mulheres que me levassem consigo, indo algumas adiante, outras atrás de mim. Cantavam e dançavam uníssonos os cantos que costumam, como canta sua gente quando está para devorar alguém.
Assim me levaram até a caiçara, diante de suas casas, isto é, à sua forificação, feita de grossas e compridas achas de madeira, como uma cerca ao redor de um jardim. Isto serve contra os inimigos. Quando entrei, correram as mulheres ao meu encontro e me deram bofetadas, arrancando a minha barba e falando em sua língua: “Che anama pipike aé”, o que quer dizer: “Vingo em ti o golpe que matou o meu amigo, o qual foi morto por aqueles entre os quais tu estiveste”.
Conduziram, depois, para dentro de casa, onde fui obrigado a me deitar em uma rede. Voltaram as mulheres e continuaram a me bater e maltratar, ameaçando de me devorar. [...]

A maior parte deles tem só uma mulher; outros têm mais. Mas alguns dos seus principais têm 13 ou 14 mulheres. (...) cada uma tinha o seu aposento na cabana, seu próprio fogo e sua própria plantação de raízes; e aquela com quam ele vivia, e em cujo aposento ficava, é que lhe servia o comer; (...)

Contratam os casamentos de suas filhas, ainda crianças, e logo que elas se fazem mulheres, cortam-lhes o cabelo da cabeça; riscam-lhes nas costas marcas especiais e lhe penduram ao pescoço uns dentes de aniamais ferozes. (...)


À SANTA INÊS e CARTA AO PADRE GERAL, 1/6/1550: José de Anchieta

O poema expressa a motivação mística e catequética, marcado por profunda devoção mariana. Ainda traduz uma visão medieval influenciada pelo Teocentrismo. Consequentemente a estrutura também é medieval , apresentando versos em redondilhos ( menor e maior), na terceira parte do poema mostra o papel dos santos na vida humana: “Cordeirinha santa,/ de Jesus querida,/ vossa santa vinda / o diabo espanta”.(p.93) ( Santa Inês é considerada o símbolo e a guardiã da castidade cristã, por isso o poeta a venera. A linguagem é marcada pelo coloquialismo, apesar de apresentar no primeiro verso, da terceira parte, um verso em latim.

A SANTA INÊS

Cordeirinha linda.
Como folga o povo
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo!

Cordeirinha santa,
De Jesus querida.
Vossa santa vinda
O diabo espanta.

Por isso vos canta.
Com prazer, o povo.
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

Nossa culpa escura
Fugirá depressa.
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.

Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

Virginal cabeça
Pela fé cortada,
Com vossa chegada,
Já ninguém pereça.

Vinde mui depressa
Ajudar o povo,
Pois com vossa vinda
Lhe dais lume novo!
(...)

Observação: Inês – mártir da Igreja do século IV. Jovem romana, foi decapitada por ter se recusado a perder a virgindade. É considerada o símbolo e a guardiã da castidade cristã.



HISTÓRIA DA PROVÍNCIA DE SANTA CRUZ: Pero de Magalhães Gândavo


Neste texto o autor descreve a terra, apresentando-a de forma exaltada, relata seu descobrimento; em seguida, remete à criação das capitanias hereditárias e, detalhadamente, descreve as mais importantes delas. Considera ainda o momento em que a Coroa portuguesa divide o Brasil em dois governos gerais, devido ao reconhecimento de que pela imensidão das costas era difícil governar tanta povoações que já havia, bem como outras que se formariam.

[...] E para que de todas no presente capítulo faça menção, não farei por ora mais que referir o caminho os nomes dos primeiros capitães que as conquistaram, e tratar precisamente das povoações, sítios e portos onde residem os portugueses, nomeando cada uma delas em especial, assim como vão do norte para o sul, na seguinte maneira.
A primeira e mais antiga se chama Tamaracá, a qual tomou este nome de uma ilha pequena onde sua povoação está situada. Pero Lopes de Sousa foi o primeiro que a conquistou e livrou dos franceses, em cujo poder estava quando a foi povoar (...)
A segunda capitania que adiante se segue se chama Pernambuco: a qual conquistou Duarte Coelho, e edificou sua principal povoação em um alto à vista do mar, que está a cinco léguas desta ilha de Tamaracá, em altura de oito graus.(...)
A terceira capitania que adiante se segue é a da Bahia de Todos os Santos, terra del-rei nosso senhor; na qual residem o governador e bispo, e ouvidor-geral de toda a costa.(...)
A quarta capitania, que é a dos Ilhéus, se deu a Jorge de Figueiredo Correia, fidalgo da casa del-rei nosso senhor; e por seu mandado a foi povoar um João de Almeida, o qual edificou sua povoação trinta léguas da Bahia de Todos os Santos (...)
A quinta capitania, a que chamam Porto Seguro, conquistou Pero do Campo Tourinho. Tem duas povoações que estão distantes da dos Ilhéus trinta léguas em altura de dezesseis graus e meio (...)
A sexta capitania é a do Espírito Santo, a qual conquistou Vasco Fernandes Coutinho. Sua povoação está situada em uma ilha pequena, que fica distante das povoações de Porto Seguro sessenta léguas, em altura de vinte graus. (...)
A sétima capitania é a do Rio de Janeiro: a qual conquistou Mem de Sá, e à força de armas, oferecido a mui perigosos combates, a livrou dos franceses que a ocupavam,sendo governador-geral destas partes. (...)
A última capitania é a de São Vicente, a qual conquistou Martim Afonso de Sousa: tem quatro povoações. (...)


TRATADOS DA TERRA E GENTE DO BRASIL: FERNÃO CARDIM


O texto é apresentado em verbetes informativos sobre a fauna, a flora e o gentio. Há descrição sobre os frutos, as madeiras, assim como dos animais, árvores e ervas que foram trazidos de Portugal e se adaptaram ao Brasil. O último parágrafo do trecho apresentado faz menção ao fato de não haver piolhos, nem percevejos, nem pulgas, como em Portugal, porém há “traças, baratas, vespas, moscas, e mosquitos de tantas castas, e tão cruéis, e peçonhentos, que mordendo em um pessoa fica a mão inchada por três ou quatro dias”(p. 136)

Acaju – Estas árvores são muito grandes, e formosas, perdem a folha em seus tempos, e a flor se dá nos cachos que fazem umas pontas como dedos, e nas ditas pontas nasce uma flor vermelha de bom cheiro, e após ela nasce uma castanha, e da castanha nasce um pomo do tamanho de um repinaldo, ou maçã camoeza; é fruta muito formosa, e são alguns amarelos, e outros vermelhos, e tudo é sumo: são bons para a calma, refrescam muito, e o sumo põe nódoa em pano branco que se não tira senão quando se acaba. A castanha é tão boa, e melhor que as de Portugal; comem-se assadas, e cruas deitadas em água como amêndoas peladas, e delas fazem maçapães, e bocados doces como amêndoas
Jaboticaba – Nesta árvore se dá uma fruta do tamanho de um limão se seitil; a casca, e gosto, parece de uva ferral, desde a raiz da árvore por todo o tronco até o derradeiro raminho; é fruta rara e acha-se somente peleo sertão adentro da capitania de São Vicente. Desta fruta fazem os índios vinho, e o cozem como vinho d’uvas.
Araticu – Araticu é uma árvore do tamanho de laranjeira, e maior, a folha parece de cidreira, ou limoeiro, é árvore fresca e graciosa, dá uma fruta da feição e tamanho de pinhas, e cheira bem, tem arezoado gosto, e é fruta desenfastiada.



TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL EM 1587: Gabriel Soares de Sousa


No texto percebe-se que o autor pretende motivar a corte de Felipe II a investir na Colônia. São apresentados seis capítulos da obra em que, segundo José Aderaldo Castello, não há capítulo emque não ressalte a boa qualidade da terra, a sua fertilidade, o que nela se deve cultivar, e a cada passo adverte o governo português da necessidade de povoar e fortificar certas regiões, para preservar sua província da cobiça estangeira.(p.138)



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